quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O soneto do amigo

Enfim depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarça com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma se multiplica...

Vinicius de Moraes

domingo, 22 de setembro de 2013

Cuidar mais de mim

Eu vim fala do que eu perdi
Que eu já chorei, do que eu vivi
Porque eu amei, me entreguei
E quantas vezes eu sorri
Eu vim contar pro seu coração
Que eu já provei da desilusão
De um amor

Eu vim falar que eu também sofri
E quantas vezes me desesperei
Foi grande a dor que eu senti
E desde então eu me toquei
Que sem amor, sem ilusão
A minha vida é em vão
Isso é morrer

Eu sei que parte do que eu passei
Foi culpa minha porque deixei
Que outro alguém me dominasse assim
Sei que preciso cuidar mais de mim

Tá complicado esquecer teu sorriso
O sentimento, a paixão que ficou
Serão pra sempre os mesmos encantos
Mas no momento desejo outro amor

Eu vim falar que eu também sofri
Eu sei que parte do que eu passei
Tá complicado esquecer teu sorriso
Nesse momento eu desejo outro amor!

Paula Fernandes

Logo eu!

Te vi e já te quis, me vi tão feliz,
um amor que pra mim era sonho!
Surpreendente provar, do que eu só ouvir falar,
e você resolveu me mostrar!!!
Logo eu que nem pensava, eu não imaginava
te merecer e agora sou o dono desse amor,
eu nem quero saber, porque eu só preciso viver
o resto dessa vida com você!!!!  

De Jorge e Mateus, mas cantada por Mariana Nolasco

O link dessa música é esse : http://www.youtube.com/watch?v=KtwuyQSWl0w

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A máscara da noite

Sim, essa tarde conhece todos os meus pensamentos 
Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios 
Sob esse céu como uma visão azul de incenso 
As estrelas são perfumes passados que me chegam... 

Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama 
E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros 
Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores 
Nuvens como velas abertas para o tempo... 

Não sei, toda essa evocação perdida, toda essa música perdida 
É como um pressentimento de inocência, como um apelo... 
Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida 
E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora... 

Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo 
Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas? 
Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo 
Faz-se surgir diamante dentro do sol! 

Lembro-me!... como se fosse a hora da memória 
Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma 
O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento 
Seios crescendo para o poente como salmos... 

Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero 
Vagam placidamente navios fantásticos de prata 
E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos 
Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência! 

Eu sinto que essa tarde está me vendo, que essa serenidade está me vendo 
Que o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo 
Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos 
Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir! 

És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea 
Com teus longos xales campestres e com teus cânticos 
És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas 
Em longas escalas cromáticas fragrantes... 

Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! - primaveras! 
Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero 
Visões de rios plácidos e matas adormecidas 
Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados! 

Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe 
Por que não te esvais - espectro - nesse perfume tenro de rosas? 
Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses 
Noite, dolorosa noite, misteriosa noite! 

Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência 
Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos 
O teu céu, a tua luz, a tua calma 
São a palavra da morte e do sonho em mim!
Vinicius de Moraes

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Um desenho e um haikai.

Olá!

Sou a Nelyana, colaboradora do blog, e esse é o meu primeiro post. :)
Daqui pra frente, sempre que puder, irei trazer novas ilustrações minhas e o que mais inventar.

Hoje, junto com a ilustra, um haikai - pra quem não sabe, são uns mini-poemas de três linhas muito famosos no Japão. Mas tem muita gente boa no haikai por aqui também, como é o caso do Millôr, autor de hoje.



Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
Millôr Fernandes